Saiba examinar o balanço e a demonstração de resultados para extrair desses documentos os indicativos da saúde da empresa, que ajudam a embasar suas decisões
por Thiago Cid
R:
Os documentos que representam as transações, a estrutura patrimonial e
financeira e os resultados de uma empresa são muitas vezes deixados
apenas nas mãos do contador ou do diretor financeiro. Nada mais
equivocado. “A contabilidade é uma linguagem de negócios e a sua
primeira utilidade deve ser na gestão”, diz Tânia Relvas, professora da
Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras
(Fipecafi). “Essa linguagem é capaz de mostrar ao administrador as
necessidades, as deficiências e os pontos fortes do seu negócio.”
Isso não quer dizer que o empresário deva cuidar pessoalmente da contabilidade da sua empresa. Mas saber ler os principais demonstrativos permite extrair deles indicativos que ajudem a embasar decisões de negócios. Essa é uma tarefa do empreendedor — e diferente das leituras que o contador ou o diretor financeiro podem fazer dos mesmos documentos. “O contador se importa mais em reportar corretamente e em ver formas tributárias mais vantajosas. O financeiro não se importa tanto com o relato, mas com a geração de valor”, diz o professor de finanças Samy Dana, da Fundação Getulio Vargas. Para o financeiro, um negócio só se justifica quando consiste em um investimento mais atraente do que outras opções, como aplicações financeiras. Cabe ao empreendedor somar essas duas visões distintas a uma terceira, que é a mais importante: a visão do negócio, própria do fundador. Desse modo, poderá fazer uso das informações contábeis de forma estratégica.
O uso dos demonstrativos como ferramenta para o empreendedor é mais eficiente quando se comparam os resultados de diferentes momentos da trajetória da empresa. Observar o histórico permite detectar tendências e estabelecer parâmetros para fazer projeções do fluxo de caixa, por exemplo. A partir dos dados é possível também calcular índices de lucratividade e retorno, entre outros, que dão uma medida importante da saúde do negócio.
Nesta reportagem, você verá modelos sintéticos do balanço patrimonial e da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE). O primeiro aponta se, ao final de um período de 12 meses, uma empresa ganhou ou perdeu patrimônio. O segundo apresenta detalhes como a estrutura de custos e despesas, entre outros, que permitem entender melhor como a empresa chegou ao resultado do período. O formato de cada documento pode incluir mais ou menos linhas, dependendo do modelo utilizado pelo contador.
A reportagem usou como exemplo números da LaserTools, empresa especializada em gravações a laser em materiais industriais, médico-hospitalares e aeroespaciais, com sede em São Paulo. Fundada por Spero Morato, 67 anos, fatura R$ 2 milhões por ano e tem uma gestão financeira conservadora, que utiliza apenas recursos próprios. Morato, que se dedica mais à área de pesquisa e desenvolvimento, começa agora a observar com mais atenção as questões contábeis e financeiras. “Sabendo interpretar os números, posso ter uma alavancagem maior e crescer sem tantos riscos”, diz.
Isso não quer dizer que o empresário deva cuidar pessoalmente da contabilidade da sua empresa. Mas saber ler os principais demonstrativos permite extrair deles indicativos que ajudem a embasar decisões de negócios. Essa é uma tarefa do empreendedor — e diferente das leituras que o contador ou o diretor financeiro podem fazer dos mesmos documentos. “O contador se importa mais em reportar corretamente e em ver formas tributárias mais vantajosas. O financeiro não se importa tanto com o relato, mas com a geração de valor”, diz o professor de finanças Samy Dana, da Fundação Getulio Vargas. Para o financeiro, um negócio só se justifica quando consiste em um investimento mais atraente do que outras opções, como aplicações financeiras. Cabe ao empreendedor somar essas duas visões distintas a uma terceira, que é a mais importante: a visão do negócio, própria do fundador. Desse modo, poderá fazer uso das informações contábeis de forma estratégica.
O uso dos demonstrativos como ferramenta para o empreendedor é mais eficiente quando se comparam os resultados de diferentes momentos da trajetória da empresa. Observar o histórico permite detectar tendências e estabelecer parâmetros para fazer projeções do fluxo de caixa, por exemplo. A partir dos dados é possível também calcular índices de lucratividade e retorno, entre outros, que dão uma medida importante da saúde do negócio.
Nesta reportagem, você verá modelos sintéticos do balanço patrimonial e da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE). O primeiro aponta se, ao final de um período de 12 meses, uma empresa ganhou ou perdeu patrimônio. O segundo apresenta detalhes como a estrutura de custos e despesas, entre outros, que permitem entender melhor como a empresa chegou ao resultado do período. O formato de cada documento pode incluir mais ou menos linhas, dependendo do modelo utilizado pelo contador.
A reportagem usou como exemplo números da LaserTools, empresa especializada em gravações a laser em materiais industriais, médico-hospitalares e aeroespaciais, com sede em São Paulo. Fundada por Spero Morato, 67 anos, fatura R$ 2 milhões por ano e tem uma gestão financeira conservadora, que utiliza apenas recursos próprios. Morato, que se dedica mais à área de pesquisa e desenvolvimento, começa agora a observar com mais atenção as questões contábeis e financeiras. “Sabendo interpretar os números, posso ter uma alavancagem maior e crescer sem tantos riscos”, diz.
Saiba examinar o balanço e a demonstração de resultados para extrair desses documentos os indicativos da saúde da empresa, que ajudam a embasar suas decisões
por Thiago Cid
RETRATO DO PATRIMÔNIO
O
balanço mostra em um quadro sucinto se a empresa ganhou ou perdeu
patrimônio ao final de um exercício fiscal, geralmente no período de um
ano
ATIVO
Revela onde foram aplicados os recursos. São todos os valores, bens e direitos que a empresa tem ou vai receber, em ordem decrescente de liquidez (no alto aparecem os que são ou podem virar dinheiro mais rapidamente).
ATIVO CIRCULANTE
Dinheiro e recursos que podem ser acessados em até um ano após o exercício fiscal. Soma o caixa, contas bancárias, estoques, ações, títulos. É usado para medir indicadores de liquidez, que mostram a capacidade da empresa de pagar suas contas em dia.
Liquidez corrente = ativo circulante ÷ passivo circulante
Liquidez seca = (ativo circulante – estoques) ÷ passivo circulante
ATIVO NÃO-CIRCULANTE
Bens duradouros e direitos que podem ser realizados (virar dinheiro) em prazo superior a um ano. Mostra a capacidade de honrar compromissos de longo prazo.
ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
Podem ser convertidos em dinheiro apenas em um período superior a um ano. Valores recebidos de empréstimos feitos aos sócios, acionistas ou empresas coligadas também aparecem aqui.
INVESTIMENTOS
Participações societárias em outras empresas.
IMOBILIZADO
Bens físicos como edifícios e equipamentos, além de benfeitorias realizadas em bens alugados.
INTANGÍVEIS
Bens incorpóreos, como o direito de exploração de serviço público, marcas, patentes e softwares.
PASSIVO
Deveres, dívidas e obrigações financeiras. São os recursos de terceiros colocados no negócio. Ordem decrescente de exigibilidade: no alto estão os que podem ser cobrados em curto prazo.
PASSIVO CIRCULANTE
Dívidas de curto prazo: despesas que vencem em até um ano após o balanço. Inclui pagamentos a fornecedores, empréstimos e financiamentos, folha de salário, provisões, obrigações sociais, fiscais e tributárias. Usado para medir índices de endividamento e estrutura patrimonial.
Endividamento a curto prazo = passivo circulante ÷ patrimônio líquido
PASSIVO NÃO-CIRCULANTE
Obrigações que vencem depois do período de 12 meses após a criação do balanço. Entram empréstimos, financiamentos, adiantamento a sócios e empresas coligadas e parcelas a pagar nesse prazo.
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Diferença entre ativos e passivos, que mostra se a empresa ganhou ou perdeu patrimônio no exercício. São os recursos da empresa investidos pelos donos, também chamados de capital próprio. Quanto maior em relação ao capital de terceiros, mais sólida é a posição e mais barato é o crédito. É usado para medir índices de estrutura patrimonial.
Imobilização do capital próprio = ativo permanente ÷ patrimônio líquido
EXAME DOS RESULTADOS O
documento ao lado (DRE) revela o desempenho obtido pela empresa: mostra
a evolução das vendas, das receitas e despesas e das margens de
rentabilidade ATIVO
Revela onde foram aplicados os recursos. São todos os valores, bens e direitos que a empresa tem ou vai receber, em ordem decrescente de liquidez (no alto aparecem os que são ou podem virar dinheiro mais rapidamente).
ATIVO CIRCULANTE
Dinheiro e recursos que podem ser acessados em até um ano após o exercício fiscal. Soma o caixa, contas bancárias, estoques, ações, títulos. É usado para medir indicadores de liquidez, que mostram a capacidade da empresa de pagar suas contas em dia.
Liquidez corrente = ativo circulante ÷ passivo circulante
Liquidez seca = (ativo circulante – estoques) ÷ passivo circulante
ATIVO NÃO-CIRCULANTE
Bens duradouros e direitos que podem ser realizados (virar dinheiro) em prazo superior a um ano. Mostra a capacidade de honrar compromissos de longo prazo.
ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
Podem ser convertidos em dinheiro apenas em um período superior a um ano. Valores recebidos de empréstimos feitos aos sócios, acionistas ou empresas coligadas também aparecem aqui.
INVESTIMENTOS
Participações societárias em outras empresas.
IMOBILIZADO
Bens físicos como edifícios e equipamentos, além de benfeitorias realizadas em bens alugados.
INTANGÍVEIS
Bens incorpóreos, como o direito de exploração de serviço público, marcas, patentes e softwares.
PASSIVO
Deveres, dívidas e obrigações financeiras. São os recursos de terceiros colocados no negócio. Ordem decrescente de exigibilidade: no alto estão os que podem ser cobrados em curto prazo.
PASSIVO CIRCULANTE
Dívidas de curto prazo: despesas que vencem em até um ano após o balanço. Inclui pagamentos a fornecedores, empréstimos e financiamentos, folha de salário, provisões, obrigações sociais, fiscais e tributárias. Usado para medir índices de endividamento e estrutura patrimonial.
Endividamento a curto prazo = passivo circulante ÷ patrimônio líquido
PASSIVO NÃO-CIRCULANTE
Obrigações que vencem depois do período de 12 meses após a criação do balanço. Entram empréstimos, financiamentos, adiantamento a sócios e empresas coligadas e parcelas a pagar nesse prazo.
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Diferença entre ativos e passivos, que mostra se a empresa ganhou ou perdeu patrimônio no exercício. São os recursos da empresa investidos pelos donos, também chamados de capital próprio. Quanto maior em relação ao capital de terceiros, mais sólida é a posição e mais barato é o crédito. É usado para medir índices de estrutura patrimonial.
Imobilização do capital próprio = ativo permanente ÷ patrimônio líquido
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
É o faturamento. Equivale à soma de todas as vendas, sem a dedução de impostos.
DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA
Valores que devem ser descontados da receita bruta, mas não são considerados custos. Entram aqui as devoluções; os descontos incondicionais (oferecidos aos clientes sem nenhuma exigência, como pagamento à vista); e os impostos e contribuições sobre as vendas.
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA
Quanto a empresa ganha com as vendas, já feitas as deduções. Deve ser capaz de pagar todos os custos e despesas e gerar margem.
CUSTO DAS VENDAS
Quantia gasta para fabricar ou comprar os produtos vendidos, ou para prestar os serviços aos clientes. Para chegar ao valor total, multiplica-se o custo do produto ou serviço pelo número de vezes que foi vendido. O pagamento da mão de obra diretamente ligada à produção deve entrar nesta rubrica.
RESULTADO OPERACIONAL BRUTO OU LUCRO BRUTO
Quanto a empresa ganha em suas operações, sem contar despesas administrativas. Equivale à receita operacional líquida menos o custo das vendas. A diferença mostra se a empresa está vendendo seus produtos por um valor superior ao preço pelo qual foram adquiridos. Usado para calcular a margem bruta de lucratividade.
Margem bruta = lucro bruto / receita operacional líquida
DESPESAS OPERACIONAIS
Gastos feitos para realizar as vendas: comissão de vendedores, fretes, passagens, publicidade.
DESPESAS ADMINISTRATIVAS
Quantias gastas para manter as atividades gerais da empresa, como pagamento da folha de salário (das funções não diretamente ligadas à produção e à prestação de serviços), contas, material de escritório, aluguel, impostos.
LUCRO OPERACIONAL
Resultado antes das deduções de impostos e amortizações. Representa o ganho resultante apenas da operação. Usado para medir margem operacional e lucratividade das vendas.
Margem operacional = lucro operacional/ receita operacional líquida
Lucratividade das vendas = lucro operacional/ vendas
DESPESAS FINANCEIRAS
Remunerações pagas pelo uso do capital de terceiros: empréstimos, juros pagos aos fornecedores, descontos condicionais aos clientes, comissões bancárias.
RECEITAS FINANCEIRAS
Ganhos com aplicações financeiras, como dividendos de outras empresas e juros. Devem ser subtraídas das despesas financeiras. Se o resultado for positivo, deve ser deduzido das despesas operacionais.
IMPOSTOS
Aqui são deduzidos os tributos que incidem sobre o resultado: Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL).
LUCRO LÍQUIDO
É o que sobra após o pagamento de todas as obrigações. Pode ser usado para remunerar o investimento feito na empresa ou aumentar o patrimônio. É usado como base para o cálculo dos impostos sobre os lucros e para determinar indicadores de retorno do investimento.
Margem líquida = lucro líquido ÷ receita operacional líquida
Retorno do investimento = lucro líquido ÷ patrimônio líquido
Retorno do investimento total = lucro líquido ÷ ativo total
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